quarta-feira, janeiro 19, 2011

29 anos sem Elis


A data de hoje completou 29 anos da morte de Elis Regina. É um dia triste para a música brasileira, que perdeu sua maior intérprete. Serei sempre extremamente parcial ao falar sobre a Pimentinha. Não há nenhuma outra cantora que chegue ao mesmo patamar alcançado por ela.

Elis no programa "Ensaio" da TV Cultura
Elis era explosão, energia pura. Seu comportamento, sempre inesperado. Por isso sua morte foi tão estranha e ao mesmo tempo tão entendida. Estranha pelo fato de que sua vida ia bem. Estava na pré-produção de um disco novo, procurava um apartamento para morar junto com seu namorado, o advogado Samuel Mac Dowell, e no dia anterior à sua morte havia oferecido um de seus famosos almoços aos amigos, nos quais ela mesma que cozinhava. Após a dolorosa separação de César Camargo Mariano e alguns romances rápidos (com o cantor Fábio Júnior, por exemplo) a vida de Elis estava finalmente entrando nos eixos. E é aí que se entende a sua busca por algo que a faria se sentir onipotente, a cocaína. Usuária não muito familiarizada com o mundo das drogas, Elis buscava nelas um reduto de coragem. Familiarizada com o agito das emoções fortes, precisaria de uma ajuda para aguentar a maré baixa. Contudo, não soube dosar bem a quantidade e o solvente dessa ajuda. Cocaína com uísque, mistura que a tirou dos braços do Brasil.

Última entrevista
Elis deixou uma vasta obra: 28 LPs, 14 compactos simples e 6 duplos. Seus discos venderam mais de 4 milhões de cópias e continuaram vendendo após sua morte. Não foi só sua obra que ela nos deixou. Essa cantora é a responsável por revelar nomes como um desconhecido Gilberto Gil (eterno apaixonado) e o mineirinho Milton Nascimento, além de João Bosco, Aldir Blanc e Belchior. Sem querer, ela acabou nos deixando também seus filhos, que hoje são grandes nomes da música brasileira. João Marcello, filho de Elis com Ronaldo Bôscolli, é dono da produtora Trama, uma das principais em apoio à música independente. Pedro Mariano e Maria Rita, ambos com César Camargo, são músicos de marca maior e sua filha, principalmente, aparece como um dos maiores nomes da chamada nova MPB.

É fato que ela deixou heranças, mas certamente o que mais deixou foi saudade. Naqueles que a viram no palco e nos que não tiveram a sorte de nascer a tempo, como é o meu caso.

A discografia de Elis Regina é essencial para quem gosta de música. Porém, gostaria de deixar aqui dois discos favoritos, que são, na minha opinião, os dois principais de sua carreira.

"Elis & Tom" (1974), gravado nos Estados Unidos, traz grandes letras do maestro Tom Jobim e interpretações beirando a perfeição da Pimentinha.

"Falso Brilhante" (1976), gravado no Teatro Bandeirantes (o mesmo do seu funeral), mostra Elis em sua melhor fase, lotando toda noite e unindo sua técnica com um amadurecimento como artista.

"Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé", ela sempre dizia aos amigos. E isso foi verdade durante 36 anos. A maioria dos gênios não vivem muito tempo, não é mesmo?  É uma pena.

"No dia em que alguém for reorganizar o seu fichário na pasta ou no compartimento Elis Regina, vai ter muito trabalho. Eu não tenho a menor intenção de ser simpática a algumas pessoas. Me furtam o direito inclusive de escolher. Sou obrigada a aceitar quem passar pela frente. Me tomam por quem? Uma imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina de Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo."
(trecho da reportagem "O amargo brilho do pó", da Veja, uma semana após a morte de Elis)

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